sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O efeito Tiririca

As eleições para deputado já não são mais dominadas por políticos tradicionais, principalmente no estado de São Paulo. Celebridades estão cada vez mais ganhando espaço. Em 2006, Clodovil foi o quarto candidato mais votado no Brasil, com quase meio milhão de votos. O cantor Frank Aguiar também recebeu votação expressiva. No pleito deste ano, o palhaço/humorista Tiririca lidera as pesquisas. O estado ainda conta com candidatos como Simony, Marcelinho Carioca e Mulher Pera.
(Minha visão é muito paulista nesse caso por causa do horário eleitoral que chega aqui. Tenho certeza que nos outros estados existem casos igualmente bizarros. Por favor, comentem sobre isso.)
Estes candidatos-celebridades, entretanto, contribuem pouco para o debate sobre os problemas brasileiros, possuindo propostas mais vazias que a média de nossa classe política. Por exemplo, o slogan do referido palhaço/homorista é: “Vote Tiririca. Pior que tá não fica!”
Ainda que possamos culpar os eleitores, acredito que o sucesso destas figuras se deve em grande parte às nossas regras eleitorais. Em particular, o Brasil possui um sistema proporcional, em que os votos são agregados no nível estadual nas eleições para deputado. Se, por exemplo, Tiririca contar com a simpatia de 5% das pessoas de São Paulo, e for odiado pelos 95% restantes, ele alcançará mais de 1 milhão de votos (o eleitorado do estado é aproxidamente 30 milhões).
No entanto, Tiririca não teria nenhuma chance em um sistema distrital, no qual é eleito apenas o candidato com maior votação dentro de cada distrito. Ou seja, seguindo nosso exemplo anterior, Tiririca arrebataria em média 5% dos votos em cada distrito. Ficaria, assim, longe de conseguir a vaga na Câmara, a não ser que tivesse votação muito expressiva em um determinado local (difícil de crer).
Há, ainda, outro aspecto de nosso sistema eleitoral que facilita a entrada dessas celebridades. Os votos recebidos por cada candidato favorecem a legenda como um todo, elevando as chances de eleição de outros candidatos do mesmo partido. Desta forma, os partidos têm incentivos a aceitar celebridades em seus quadros. Por exemplo, em 2002, Ildeu Alves Araujo (do extinto Prona) foi eleito deputado federal com 382 votos, em função da estrondosa votação obtida por Enéas Carneiro.
É claro que o sistema distrital também tem seus defeitos (para uma discussão, veja o post do Carlos Eduardo sobre sistemas eleitorais). Mas, em minha opinião, precisamos de uma reforma urgente. Afinal, como diria Tiririca, pior que tá não fica.


Fonte: Época

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