sábado, 16 de outubro de 2010

Green Day leva seu circo à Barra e mostra que é tudo, menos uma banda de punk rock

Billie Joe Armstrong comandou o show de gracinhas do Green Day na Barra da Tijuca / Foto Mônica Imbuzeiro



 O cara vestido de coelhinho rosa no palco ao som de "YMCA", do Village People, antes do show começar, já dava o tom de como seria a longa noite com o Green Day: divertida. A banda tocou por cerca de três horas na Arena Multiuso, na sexta-feira à noite - as duas primeiras horas e meia praticamente sem pausa. E teve de tudo no palco, até músicas do Green Day. Em clima de circo, Billie Joe Armstrong e seus asseclas fizeram de tudo um pouco, até tocar músicas da banda no meio. Só não houve animais amestrados em cena porque esse tipo de coisa está proibido.
Vamos tentar resumir: nas primeiras duas horas de show, a banda fez de tudo, menos tocar uma música inteira do Green Day sem nenhuma interrupção ou brincadeirinha. Foi um longo coito interrompido. Já na segunda música da noite Billie Joe puxou o primeiro dos infindáveis corinhos de "êh, ôh!", em cerca de 180 minutos gritou "Reeeoo!" umas 300 vezes e, na quarta música da noite, já estava enrolado com uma bandeira do Brasil. Mas, já, gastando os cartuchos? Isso não era nem o começo. Como se tivesse tomado uma overdose de energético, ele pulou, gritou, puxou corinho, mãozinhas pra cima, rolou, jogou água, lançou camisetas e atirou papel higienico na plateia, deu guitarra de presente a um cara, beijos na boca de meninas, improvisou karaokê, tirou fotos, só faltou engolir espadas e pular num arco com fogo (mas o fogo esteve presente na pirotecnia do show, que pipocava e explodia a todo momento).
Parecia tudo espontâneo e vivo, mas era tudo extremamente ensaiado. Todos os que subiram ao palco o fizeram porque foram pré-selecionados num canto da grade pela produção e esperavam a sua vez de brilhar ao comando de BJ. O único que subiu por conta própria, tomou logo um pescoção do segurança e foi imobilizado com violência. Feio. Mas, sabe como são os americanos, se não está no roteiro, eles ficam perdidos.
E o roteiro foi seguido à risca. Tocaram as mesmíssimas músicas do show anterior, em Porto Alegre, sem nenhum improviso, incluindo pequenos medleys/citações à Black Sabbath ("Iron man"), Led Zeppelin ("Rock n roll"), Guns & Roses ("Sweet child o´mine") e AC/DC ("Highway to hell"), mas só o bastante para a plateia reconhecer estas músicas. Do repertório próprio, tocaram músicas de quase todos os seus discos, sobretudo de "Dookie" (1994) para cá, só que desta forma, quebrada, quase nunca as tocando na íntegra, sempre com algum adendo, grito ou brincadeirinha. Cansava.
Só nos últimos 30 ou 40 minutos do show foi que pudemos apreciar músicas do Green Day (sobretudo de seus dois últimos álbuns, como as ótimas "Jesus of suburbia" e "American idiot") na íntegra, como eles fizeram quando estiveram aqui pela primeira vez, há 12 anos. Mas, no geral, rolavam tantas brincadeiras que as rodas só se abriram hora e meia depois, quando entraram no repertório de "Dookie" (o momento karaokê foi em "Longview" e a melhor roda foi com "Basket case"). As intervenções eram divertidas, mas foram tantas que, em dado momento, se não fosse o nome da banda em letras garrafais nos panos de fundo, a gente teria até dúvida de que show estava assistindo. O que era mesmo aquilo no palco? Teve até citação ao humorístico inglês "Benny Hill" na hora em que todos se fantasiaram; é, teve isso.
O show atual do Green Day serve, ao menos, para eles provarem de uma vez por todas que são tudo, menos uma banda de punk rock. Eles fazem um pop rock divertido, num ambiente seguro e controlado, agradável para garotas num universo que sempre foi mais masculino, e onde desfilam todos os clichês do rock (ate calça abaixada teve!), só que nada espontâneo, tudo milimetricamente ensaiado. Não à toa, eles estão agora com um show na Broadway com canções de seu disco "American idiot". Green day é puro showbusiness, no que isso tem de bom e ruim. Diverte, faz pular, passa ao tempo, vale o ingresso, mas, quando acaba, a gente lembra mais das presepadas do que da música em si. Onde é que ela estava mesmo? Curioso para uma banda que tem lançado discos tão ambiciosos ultimamente. Mas as mais de 10 mil pessoas que foram até a arena não terão do que reclamar.
Seus corpos moídos a lembrarão da boa noite.
O público que lotou a Arena se divertiu com o Green Day / Foto Mônica Imbuzeiro
Fonte: O Globo

Nenhum comentário: