A guitarra é, sem dúvida alguma, o instrumento que melhor simboliza tudo aquilo que o rock pretende mostrar. Não existe pessoa aficionada por música, principalmente rock, que não conheça guitarras ou guitarristas. Poderíamos inclusive nos arriscar a dizer que a guitarra é conhecida por todos, mesmo aqueles que não estão especialmente "sintonizados" com música. De onde surgiu então este instrumento de concepção tão simples e detalhes tão complexos, capaz de fazer a alegria de milhares de pessoas?
Guitarra barroca feita pelo luthier Giovanni Tesler, 1618
Eram instrumentos pequenos, com braços e corpos bem menores que os dos violões atuais, e parte traseira arredondada, feita pela junção de diversas ripas de madeira, como no casco de um barco. Até o século XVIII, porém, muito pouco aconteceu na evolução da guitarra barroca. Foi nessa época que se começou a usar, de forma mais generalizada, 6 cordas, mesma quantidade que temos hoje.
Guitarra barroca atribuída ao luthier René Voboam, século 17. Notar o fabuloso trabalho de entalhe com madrepérola e o contorno do corpo trabalhado em Marfim e Ébano.
Modelo de guitarra-harpa, em forma de lira, feito pelo luthier François Breton, cerca de 1800. Notar a utilização de 6 cordas e a escala parecida com o violão tradicional.
Apesar das transformações ocorridas com o instrumento na Espanha, no final do século XIX ainda vivia-se sem usufruir da velocidade da informação de um mundo globalizado, e portanto paralelamente ao trabalho de Torres outros esforços eram empreendidos com o intuito de aperfeiçoar o violão.[ * retorna x>
Esta foto mostra um violão feito por Torres, o pai do violão clássico moderno. Datado de 1860, possui linhas bastante atuais. Reparar no detalhe da mão, onde as tarraxas ainda eram de madeira, com afinação garantida por atrito (usava-se pó de giz para aumentar o atrito entre as peças e garantir a afinação).
Martin foi para os EUA no ano em que foi registrada uma das maiores chuvas de meteoritos de toda a história. Não sabemos se durante a sua longa viagem ele teve a possibilidade de observá-los do convés do navio e fazer algum pedido, mas o fato é que suas criações obtiveram grande sucesso e definiriam o que viria a ser considerado o violão americano, ou como é mais conhecido de todos, o violão de cordas de aço.
Martin estava acostumado a construir instrumentos baseados na tradicional escola européia, altamente decorados e empregando materiais raros como marfim e madrepérola. Logo percebeu que se quisesse ter sucesso na nova empreitada teria que adaptar seu estilo. Afinal, seu mercado potencial era formado basicamente por pessoas modestas, que trabalhavam duro e sem tempo para "pompas e circunstâncias". Usando sua experiência e buscando soluções inovadoras, Martin simplificou os instrumentos, sem contudo abrir mão da qualidade e cuidado na construção dos mesmos. Na prática isso pode ser verificado através da adoção de uma mão simples (onde ficam as tarraxas), de linhas retas e sem adornos, assim como um cavalete também de linhas retas. Também aumentou o tamanho da caixa de ressonância, e aplicou uma de suas maiores invenções: a estrutura do tampo em forma de X, conhecida como "X-bracing". Esta estrutura consiste basicamente em reforçar o tampo internamente com 2 ripas formando um X, garantindo rigidez e durabilidade, mas permitindo liberdade de vibração ao conjunto. No século seguinte, esta estrutura caiu como uma luva no emprego de cordas de aço, suportando a tensão extra das mesmas em relação às de nylon e ainda assim garantindo uma sonoridade forte e precisa. Essa arquitetura de construção virou então o padrão utilizado nesse tipo de instrumento, e é usada até hoje por praticamente todos os fabricantes. Nascia assim o violão de cordas de aço, também chamado de violão folk.
Washburn modelo 355, de 1899. Totalmente inspirado nos modelos da Martin, porém com boa qualidade de materiais e acabamento.
Gibson L1, modelo de 1912, mostra um corpo de tamanho pequeno em relação aos modelos posteriores.
E assim, foi em 1902 que Orville Gibson, um habilidoso luthier, criou uma empresa com o objetivo de construir bandolins e violões. No entanto, Gibson não queria construir instrumentos como os que os outros faziam: queria aplicar seus conceitos de construção de violinos e violoncelos aos bandolins e violões. Apareceram assim instrumentos com tampo e fundos curvos esculpidos, e a tradicional boca redonda foi substituída por aberturas em formas de "f". A ponte (ou cavalete), antes colada no tampo, passou a ser móvel, como nos violinos, atuando como um transmissor das vibrações das cordas para o tampo e caixa de ressonância. As madeiras empregadas passaram a ser similares às usadas nos violinos. Nascia, além da Gibson que todos conhecem hoje, a guitarra de jazz.
Com as modificações realizadas por Gibson e com o aumento do tamanho da caixa de ressonância, realizada nos anos 30, a guitarra conseguiu um substancial aumento de volume sonoro. Os modelos lançados pela Gibson, particularmente L5 e Super 400, viraram campeões de popularidade entre os grupos de jazz.
Gibson L7, modelo de 1937, já mostra uma caixa de ressonância grande (17 polegadas na parte inferior mais larga), com objetivo de garantir um volume de som condizente com as necessidades da época, já que então a guitarra elétrica ainda não podia ser considerada uma realidade.
No entanto, apesar de todas estas inovações, a proliferação das “Big Bands” nos anos 30 colocou a guitarra em uma posição delicada. Por mais bem construída que fosse, seu volume sonoro não conseguia rivalizar com o dos metais e bateria. A idéia de aumentar o volume a partir de agora seria recorrer à eletricidade.
Estava preparado o cenário para o nascimento da guitarra elétrica...
Fonte: Whiplash
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