quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Dave Grohl, Krist Novoselic e Butch Vig falam sobre os 20 anos de 'Nevermind', do Nirvana

Krist Novoselic, Dave Grohl e Butch Vig / AP



No próximo sábado, "Nevermind", do Nirvana, completa 20 anos cheio de hinos como "Smells like teen spirit" e "Come as you are", que marcaram o começo da explosão do rock alternativo da década de 90. Aquele conjunto de canções transformou o baterista Dave Grohl, o baixista Krist Novoselic e o cantor e guitarrista Kurt Cobain em portavozes da chamada geração X, até o suicídio de Cobain, em 1994. Em uma noite dessas, dentro do mesmo 606 Studio onde "Nevermind" foi gravado, Grohl e Novoselic se reuniram ao produtor Butch Vig e conversaram sobre como eles fizeram o disco que mudou suas vidas e a história da música pop para sempre.
Qual foi o momento em que vocês perceberam que "Nevermind" havia se tornado maior que vocês?
Grohl: Eu diria: 'Saturday night live'. Ser convidado para participar do SNL foi, sem dúvidas, este momento para mim. Foi quando eu pensei: 'Oh, meu Deus, nós somos uma DAQUELAS bandas agora'. Então, no camarim, "Weird Al" Yankovic ligou e perguntou se poderia fazer uma paródia de "Smells like teen spirit". Foi um fim de semana muito estranho. Este foi o momento para mim.
Novoselic: Foi chocante ficar famoso. E lá estava Kurt, que foi designado o portavoz de uma geração. Isso foi muito duro para ele. Ele tinha algumas questões pessoais acontecendo tão rápido quanto a banda. Ele estava em um redemoinho. Kurt não necessariamente se identificava com a Geração X ou os valores do "mainstream".
Como é ouvir "Nevermind" depois de todos esses anos?
Vig: Ele ainda está por aí. É onipresente, mas essa é a primeira vez que ouço o disco com uma perspectiva crítica. As remasterizações soam ótimas e o álbum se comporta muito bem. É atemporal. Acho que parte disso se deve às canções, que são muito boas. A produção não soa falsa. É apenas baixo, bateria e guitarra. Não há nenhum tipo de som da moda.
Grohl: "Nevermind" representa mais do que apenas um disco cheio de músicas para mim. Marca uma passagem específica e muito empolgante da minha vida. Pessoalmente, minha vida mudou com o lançamento daquele álbum. Toda minha vida se define pré-"Nevermind" e pós-"Nevermind". Quando o disco saiu, meu mundo mudou completamente. Havia algo de inocência naquilo tudo.
Como vocês acham que a música mudou desde o lançamento de "Nevermind"?
Grohl: Honestamente, se você olhar o que estava acontecendo lá atrás... tirando a tecnologia, todas essas coisas estúpidas continuam acontecendo. Você ainda tem programas idiotas de TV para fazer as pessoas famosas para que elas vendam discos. O top 10 continua cheio de porcarias. É a mesma bosta. Você ainda tem todas essas bandas tentando fazer acontecer em algum lugar.
Vig: Com a informação se movendo tão rápido, o mundo todo tem DDA. Você agarra uma coisa apenas por um segundo antes de descartá-la. Quando "Nevermind" aconteceu, ainda estávamos em um tempo mais devagar. Aquilo tudo realmente aconteceu a partir de um nível de base. A gravadora prensou algo em torno de 40 mil cópias, mas o boca a boca foi mais ágil do que o marketing da Geffen poderia prever.
Como vocês se sentem sobre o impacto de "Nevermind", não só na música, como na cultura?
Grohl: Eu tenho essa válvula de bloqueio. Quando eu estou em um lugar e começo a perceber o impacto do álbum, eu simplesmente desligo porque é difícil imaginar que algo tão inocente e simples tenha fugido ao nosso controle. Acho que "Nevermind" veio em um momento em que um monte de jovens não tinha nada em que acreditar e o Nirvana era inteiramente real.
Novoselic: Lembro de quando o Nirvana estava despontando e nós continuávamos muito idealistas sobre tudo. 'Sim, nós vamos mudar o mundo!'. Era como se eu estivesse ouvindo punk rock ou mesmo hard rock pela primeira vez. Mas, mais uma vez, a revolução foi cooptada e nunca veio da maneira que você pensou que ela viria.
Se houvesse um rasgo no continuum espaço-tempo, vocês acham que poderiam ter feito "Nevermind" hoje?
Vig: Não acho que soaria do mesmo jeito. Tem um sentimento no disco que você não pode manipular. Hoje eu amo computadores, mover os sons e mexer com eles. Acho que a tecnologia, de alguma forma, atrapalharia a gravação do tipo de disco que nós queríamos fazer. E eu sei que não faria melhor. É impossível imaginar aquilo acontecendo agora.
Grohl: Com a tecnologia dos nossos dias, nós poderíamos ser uma dessas bandas que gravam por conta própria em uma garagem, sobem os vídeos para o YouTube e contornam as rotas convencionais da indústria. Quem sabe? Eu sei que se eu e Krist estivéssemos naquela cabine agora e gravássemos daquele jeito, nós poderíamos soar exatamente os mesmos. É simplesmente como a coisa toda aconteceu.


Fonte: O Globo

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