sábado, 10 de setembro de 2011

'Nunca foi um festival só de rock', diz curador do Rock in Rio


Zé Ricardo, responsável por palco sunset, se sente treinador da seleção.
Ele conta que é procurado por fãs do festival que perguntam 'cadê o rock?'.


O cantor e curador Zé Ricardo (Foto: Divulgação)

Mesmo com bandas para quase todos os tipos de gostos, sempre aparece gente criticando a programação do Rock in Rio, que tem sua quarta edição brasileira de 23 de setembro a 2 de outubro. Zé Ricardo, curador do palco sunset do festival, recebe com bom humor as reclamações de fãs na internet, na rua e em outras praças. Para ele, o Rock in Rio parece a seleção brasileira: todo mundo tem um palpite e uma escalação melhor do que a dele.

“É exatamente isso que acontece. É muito curioso. As pessoas se apropriaram do Rock in Rio como se fosse uma seleção brasileira”, compara Zé Ricardo em entrevista ao G1. “Sempre aparece alguém falando para mim ‘Que absurdo, cadê o rock?’. Mas nunca foi um festival só de rock. Já teve Ivan Lins, Moraes Moreira”, lembra. “As opiniões mudam de dois em dois minutos. É muito parecido com futebol. Você anuncia uma banda e falam que é um horror. Depois anunciam outra e dizem que te amam”, diverte-se. “São milhões de fatores que fazem com que você não convide determinadas bandas. Parece que é só chamar que elas vêm. Ninguém está sempre a sua disposição.”




Para ele, prevalece a ideia que o Rock in Rio é um festival de música de todo o mundo e não apenas um evento dedicado ao rock n’ roll. A máxima guia a escolha das atrações do palco mundo, que recebe de Motörhead a Claudia Leitte. Mas também é aplicada no palco sunset, espaço reservado para duetos.
“É um palco artístico, que pode receber até 30 mil pessoas. Então, eu posso ousar”, explica. “Mas não muito, claro. Quando você faz festival menor, pode botar várias bandas que ninguém conhece. Nunca poderia fazer isso com toda a programação. Tentamos misturar artistas com notoriedade e novos talentos.”

Zé Ricardo começou a se arriscar no terreno da curadoria em 2003. “Foi meio de brincadeira, quando produzi o Telefônica Open Air”, recorda. A banda do músico recebia convidados para jam sessions. Em 2005, levaram o evento para Portugal. “Cheguei sem me envolver com ninguém, mas teve dia com 30 e poucos artistas no palco. Em 2006, voltei para Portugal no Rock in Rio. Em 2008, tiveram a vontade de acabar com o segundo palco para bandas novas. Queriam um palco tão importante quanto o palco mundo”, conta.
A banda portuguesa de pop rock Xutos & Pontapés, que toca com o Titãs no Rock in Rio (Foto: Divulgação/Site oficial)

A conexão Brasil-Portugal ensaiada em 2006 ganha agora o palco sunset. Buraka Som Sistema, Rui Veloso, The Gift, Xutos & Pontapé e Davi de Fonseca representam a música lusitana. Grande nome do pop rock português, o Xutos se apresenta com o Titãs. “Em Portugal, eles fazem shows para 20, 30 mil pessoas. Tim [vocalista do grupo] é muito paciente e doce, ele se apropria muito do que canta.”

Sempre aparece alguém falando para mim ‘Que absurdo, cadê o rock?’. Mas nunca foi um festival só de rock. Já teve Ivan Lins, Moraes Moreira. As opiniões  mudam de dois em dois minutos. É muito parecido com futebol. Você anuncia uma banda e falam que é um horror. Depois anuncia outra e dizem que te amam."
Zé Ricardo, curador do Rock in Rio

Mesmo com todo esse afeto, Zé Ricardo reconhece que a música feita em Portugal quase não é tocada e cantada no Brasil. “Tem uma resistência, acham engraçado o sotaque”, justifica. “É uma falta de costume. Não temos oportunidade de ouvir a música portuguesa contemporânea. Há um desconhecimento, porque nunca foi difundido. Há artistas de rock, reggae, hip hop. Ainda pensam na caricatura engraçada, no português do padeiro. Depois que ouvem, ententem e gostam muito.”
'Vários em um'
Além da curadoria do Rock in Rio, Zé Ricardo lançou no fim deste primeiro semestre o disco “Vários em um”, com produção de Plinio Profeta. “Ele foi um super encontro na minha vida. Eu já estava há quatro anos sem um disco, por conta do trabalho no Rock in Rio. Ele sempre ficou botando uma pilha. Eu pude colocar toda a vivência que tive de trabalhar com artistas diferentes”, comemora.

O disco é na maioria recheado por composições próprias e parcerias, mas há espaço para a regravação de “Eu só quero um xodó”. “Meu pai é nordestino e eu cresci ouvindo a obra de Luiz Gonzaga”, relata. “Ele toca viola de sete cordas e só quer saber de choro. Temos uma piada interna que meu disco é bom, mas não tinha uma música do Luiz Gonzaga. Sempre brincamos com isso. Meu pai fez uma ponte de safena e quis fazer uma homenagem para ele. Quando mostrei, foi uma emoção muito grande.”
Fonte: G1

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