terça-feira, 18 de maio de 2010

Documentário passa a limpo mitos sobre Lemmy, líder do Motörhead

Ídolo corrige números de mulheres com quem fez sexo: 'foram só mil'.
Filme exibido em Cannes traz depoimentos de Metallica, Ozzy e Dave Grohl.

LemmyCartaz do documentário 'Lemmy'. (Foto: Divulgação)
Lemmy é o avô do heavy metal. Lemmy é o padrinho do thrash metal. Lemmy, mesmo britânico, é a síntese do rock'n'roll de Los Angeles. Lemmy foi roadie de Jimi Hendrix e teve um filho com uma groupie que perdeu a virgindade com John Lennon. Lemmy é fã de Beatles, de Little Richards e de Elvis Presley. Lemmy é uma lenda. Lemmy é um mito. Lemmy é "true". Lemmy é Lemmy.
"Dane-se o Keith Richards!", provoca Dave Grohl em declaração ao documentário "Lemmy", exibido na noite desta terça-feira (17) em Cannes depois de fazer sua première mundial no festival South By Southwest, nos Estados Unidos, em março. "Enquanto outros roqueiros de 60 anos ficam viajando com seus jatos particulares e supermodelos, bebendo champanhe em algum hotel de luxo de Paris, Lemmy está em algum canto agora, tomando Jack Daniels com Coca e fazendo rock'n'roll."

Realizado por Greg Olliver e Wes Orshoski, "Lemmy", o filme, reúne depoimentos de gente do metal, do punk, do rap e até da eletrônica na tentativa de explicar o fascínio por trás do homem com a voz mais estragada, o maior bigode, as verrugas mais feias e, provavelmente, a atitude mais cool da história do rock.
Veja imagens do sétimo dia em Cannes

Lars Ulrich assume ser fã número 1 do Motörhead. James Hetfield, Kirk Hammett e o ex-baixista Jason Newsted, também do Metallica, assumem que "roubaram" ideias de Lemmy. Até Ozzy Osbourne, um dos pioneiros do heavy metal, reconhece que sem a injeção punk que o baixista do Motörhead trouxe ao gênero talvez a história teria sido bem diferente. Mick Jones, ex-Clash, Peter Hook, ex-New Order, Slash, ex-Guns N'Roses, Henry Rollins, ex-Black Flag, Dave Navarro, ex-Janes Addiction, todos têm orgulho em dizer às lentes dos documentaristas norte-americanos que são tietes de Lemmy e que o grande segredo de seu fascínio está no grau de autenticidade de tudo o que Lemmy faz.

Em paralelo a isso, Olliver e Orshoski se aproximam do artista para resgatar as anedotas antigas, visitar os lugares frequentados por ele e acompanhar três anos da vida do líder do Motörhead na estrada - além de jam sessions com Grohl, Metallica e sua banda de blues The Head Cat. Os fãs vão se deleitar com a coleção de baixos Rickenbaker e amplificadores que Lemmy carrega nas turnês.

Apesar da timidez e do jeito fechadão do personagem, o documentário consegue ainda arrancar algumas declarações surpreendentes - e quase sempre bem-humoradas - de Lemmy, como quando ele diz pela primeira vez, e na frente do filho, que a coisa mais importante em sua vida é o rapaz. Conhecido por exagerar na bebida - whisky Jack Daniels com Coca-Cola - e nas drogas, sem nunca ter dado vexame em público, o roqueiro desconversa quando o tema é mencionado. "Tenho muitos amigos que não tiveram a mesma sorte. Não quero dar mau exemplo para as crianças."

Na intimidade, o filme aborda outras polêmicas da trajetória de Lemmy, como sua paixão por símbolos e artefatos nazistas - "se os israelenses tivessem uniformes tão bacanas eu não teria problema nenhum em colecioná-los também" -, as 2.000 mulheres com quem teria feito sexo - "na verdade, eu falei que eram 1.000, e se você divide isso por 60 anos nem é tanto" -, a ausência do pai, e a dificuldade em se envolver seriamente com uma mulher depois que, aos 17 anos, sua namorada morreu por overdose de heroína.

"Lemmy", o filme, traz ainda imagens raras do baixista no The Rockin'Vickers, sua primeira banda em meados dos anos 60, além de shows com o grupo de space rock Hawkind, do qual foi chutado nos anos 1970 por ser "muito acelerado" - graças ao speed - para o espírito mais psicodélico da banda. Lemmy, no documentário, minimiza e tira sarro do episódio: "Eu estava transando com a namorada do vocalista".

Com uma narrativa bem editada e cativante, "Lemmy" consegue prender a atenção do espectador pelas quase duas horas. O filme tem o mesmo ritmo e fluidez que alguns dos melhores e mais recentes exemplos de documentários sobre este universo, como "Metal - A jornada de um headbanger" e "Flight 666", sobre o Iron Maiden, ambos da dupla Sam Dunn e Scott MacFadyen.

Procurados pelo G1 ao final da sessão em Cannes, Olliver e Orshoski garantiram que têm todo interesse em trazer o filme para o Brasil em breve. "Seria ótimo! Sabemos que o país tem um público ótimo de metal, e temos dois brasileiros na equipe trabalhando conosco. Em todo shows eles eram homenageados quando Lemmy tocava 'Going to Brazil'. Espero que a gente consiga levar o Lemmy também", concluiu Orshoski.

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