domingo, 21 de novembro de 2010

É preciso ter menos preguiça e mais curiosidade

Por Regis Tadeu

Não dá para negar que a inacreditável discrepância existente entre o que se ouve nas rádios e nas TVs e o cenário musical que poderíamos chamar de “underground” expõe de maneira ainda mais tenebrosa o colapso mental que parece ter acometido grande parte da população brasileira. Não é preciso ser um sacerdote profético vestido em um camisolão branco e empunhando um cajado para perceber que o falso modelo de “sucesso” que ainda tentam empurrar goela abaixo da população está derretendo tal qual um sorvete de pistache no deserto do Saara.
O que me causa mais espanto é que tudo isso não foi causado única e exclusivamente pela ignorância das pessoas, mas principalmente pela inegável incapacidade desta gente em ouvir, ver e principalmente entender o que se passa além de suas fronteiras mentais. Embora não seja algo premonitório, quem tem um mínimo de sensibilidade sabe que, mais cedo ou mais tarde, a empáfia com que a grande mídia lida com a desinformação musical das pessoas pode ser a causa de sua própria ruína.
Todos nós enfrentamos o grande perigo da violência desenfreada no cotidiano, mas há outro – e sério – problema no ar: a ausência de bom senso e a preguiça em pesquisar. Enquanto convivemos diariamente entre o berço da vida e a cimitarra da morte, é imprescindível que se perca alguns momentos para ouvir e ler o que outras pessoas têm a dizer – a não ser que ela insista em lhe convencer que o Restart é uma banda da qual nos lembraremos daqui a dez anos. Brincadeiras à parte, o que quero dizer é que você não pode abrir mão de raciocinar, entender e contra-argumentar de maneira lógica e coerente quanto toma contato com sons que jamais ouviu.
Isto pode ser facilmente aplicável ao nosso cotidiano musical e, porque não dizer, cultural. Basta que você deixe de lado a indiferença brutal que alguns energúmenos se orgulham de alardear na hora de ouvir sons diferentes.
Basta que não tenha pudor em tomar contato com a música de bandas e artistas que não são consagrados pela mídia, e que entenda que o futuro está na compreensão da grandeza do ecletismo. Basta não ter receio em navegar por centenas de blogs que tratam de música e utilizar as redes sociais para ouvir sons que você jamais teria acesso caso continuasse a ter a preguiça crônica que assola a maioria da população.
Basta que você deixe de lado a idolatria monoteísta endereçada a um único ídolo. Por que não se pode gostar de Motörhead, Bach, Caetano Veloso, Madonna, Céu, Immortal, Baranga e Tom Jobim ao mesmo tempo, como é o meu caso? Por que você tem que se resignar a ler livros de auto-ajuda para melhorar sua vida? Por que fãs histéricos e cegamente hipnotizados por uma banda – qualquer uma! – ou um determinado artista – qualquer um! – precisam continuar a não ter a mínima idéia do mundo musical fora do âmbito de sua adoração escandalosa?
A resposta é simples: se você não questionar a si próprio em relação a tudo isto, é provável que continue a permanecer confinado no gueto sujo da alienação. Quem enxerga a vida de um modo musicalmente monocromático está condenado a perambular sozinho por um mundo que talvez nunca mais seja o mesmo que conhecemos até então.
Foi justamente por pensar que qualquer coisa além da Estátua da Liberdade era apenas o ‘resto’ do mundo que os americanos estão em uma tremenda enrascada nos dias de hoje.
Fonte: Yahoo

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